SOBRE NICOLE BAHLS E OS EFEITOS NEFANDOS DA REGULAÇÃO DO BRIOCO
Somente
os grandes autores podem dialogar consigo próprios sem incorrer num ridículo
atroz (é favor pronunciar o “atroz” com o dorso da mão na cintura). Carlos
Drummond, porque era Carlos Drummond, e porque apreciava furingos femininos
tanto quanto ou mais que este autor, podia desdizer-se anos depois e confessar
que seu coração não é maior que o mundo (muito embora eu, com fins meramente
publicitários, teria preferido asseverar, à vez primeira, que a minha trosoba é
que era mais vasta que o mundo). Paulo Coelho, porque é Paulo Coelho, e porque cultiva
o costume feio de dar o cu sem o atenuante de ser um perobo de gênio do quilate
dum Wilde, Gide ou Rimbaud, não poderia publicar impunemente um Veronika decide foder.
Essa
digressão vai à guisa de escusas por retomar assunto antigo e, creio, já
esgotado desde o meu ensaio Da completude da condição feminina,
a saber: que a mulher que, nos dias que correm, se nega a liberar o brioco é
necessariamente uma mulher incompleta (comprova-o,
observei então, o fato de as profissionais que dão o cu se descreverem como “completas”
ou “completinhas”). Ora, a despeito de o assunto estar encerrado desde então
(nunca recebi réplicas, por exemplo, da Srª. Rose Marie Muraro), eis que uns
meus leitores desocupados exigem aos faniquitos que eu me afaste de meus graves
afazeres e me pronuncie sobre as recentes e extravagantes declarações da Srª. Nicole Bahls,
que em entrevista ao um site de
pederastas assegurou que “[os homens] me traem porque eu não gosto de dar o bumbum [sic] e tem um monte de mulher por aí fazendo isso”.
Pois
muito bem: em primeiro lugar, quero deixar registrado que eu me recuso a
acreditar que uma vagabunda de escol como a Srª. Bahls se referiria ao ato de
levar uma bruta trosoba na peida como “dar o bumbum”. Com esse linguajar mais
apropriado às psicólogas que o Sr. Fernando Haddad quis introduzir nas escolas
de primeiro grau para explicar aos nossos filhos e netos que tudo pode, tudo é
lindo, tudo é Deus (linguajar que, suponho, se complementaria com referências
quase poéticas, toquinianas mesmo, a “dar um beijinho de língua na pepequinha”,
“botar o pipiu no popozinho do coleguinha”, “usar a xerequinha da prima como
uma luvinha” e “brincar de fazer sabãozinho ao botar as pererequinhas para
brigar”), com esse linguajar inocente, dis-je,
a Srª. Bahls se arrisca a afugentar a clientela que, em sua maioria, será
composta de cavalheiros de vida regrada a quem repugna qualquer associação
subliminar com a prática criminosa da pedofilia.
Isto
como preliminar. O “dar o bumbum” eu ponho na conta da repórter que a
entrevistou, que como estagiária de subjornalismo ainda será menina nova e
portanto afeita a esses eufemismos para designar os atos que com certeza
pratica. Mas, passando à questão de fundo, diria eu que as declarações da Srª.
Bahls me alegram por dois motivos distintos. O primeiro é que eu toquei uma
punheta inspiradíssima imaginando-me indo rasgar os entrefolhos ainda completamente
pregueados que haveriam de se esconder bem no centro daquele lorto descomunal.
O segundo, e mais importante para os fins deste veículo, é que a triste
experiência que a cândida Nicole compartilha com o público leitor terá
efeitos pedagógicos para todas as mulheres deste nosso Brasil, ao explicitar sem
meias tintas os efeitos nefandos da prática egoísta de regular o brioco para
namorados, maridos e amantes. Como educador, eu não poderia desejar exemplo mais instrutivo.